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No Brasil, durante muitos anos, os investimentos foram direcionados para o esquema de policiamento ostensivo. A inteligência policial é deficiente. Temos que investir na inteligência, na estruturação tecnológica das perícias estaduais para poder dar condições de a polícia investigar os desaparecimentos"
Convidado a participar da audiência da CPI do Desaparecimento de Crianças, na Câmara dos Deputados, o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, defendeu nesta terça-feira (2) um volume maior de investimentos na área de inteligência das polícias estaduais como forma de aprimorar as investigações de casos de sumiço no país.
“No Brasil, durante muitos anos, os investimentos
foram direcionados para o esquema de policiamento ostensivo. A
inteligência policial é deficiente. Temos que investir na
inteligência, na estruturação tecnológica das perícias estaduais
para poder dar condições de a polícia investigar os
desaparecimentos”, defendeu Barreto.
Para demonstrar o grau de deficiência das
investigações criminais da polícia, Barreto lembrou que apenas
50% das investigações de homicídio no país chegam a identificar
o assassino. “É muito grave. 50% das investigações de homicídio
não chegam a descobrir autor. Se não conseguimos apurar nem a
autoria dos crimes, quem dera buscar pessoas desaparecidas”,
afirmou Barreto.
O ministro voltou a apresentar o Cadastro Nacional
de Pessoas Desaparecidas, lançado no dia 26 de fevereiro. Para
Barreto, a popularização do cadastro poderá ajudar nas buscas:
“A localização dos desaparecidos será mais intensa.”
saiba mais
Um dos casos mais polêmicos da CPI, que tem intrigado a polícia
de Goiás, está na cidade de Luziânia, onde seis jovens
desapareceram sem deixar vestígios. Até a Polícia Federal entrou
no caso para auxiliar a polícia goiana. O ministro da Justiça
evitou fornecer detalhes sobre a investigação para não
comprometer o trabalho dos agentes, mas afirmou que o trabalho
já está na fase de quebra de sigilos. “A polícia já fez reuniões
de inteligência, tem equipamentos de inteligência para auxiliar
nas buscas e já utiliza métodos que envolvem quebra de sigilos”,
relatou Barreto.
Familiares dos jovens desaparecidos acompanharam a
audiência que começou 15h na Câmara. Em seu depoimento à CPI, o
ministro da Justiça conta com a colaboração do secretário
nacional de Segurança Pública, Arthur Andrade, e do delegado
Wesley Almeida Soares, da Polícia Federal, que acompanha o caso
dos desaparecimentos de adolescentes em Luziânia.
Cadastro
Lançado no dia 26 de fevereiro pelo Ministério da
Justiça, o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas foi criado
para se tornar uma rede nacional de investigação. Todo cidadão
vai poder fazer o registro do desaparecimento por meio da página
(www.desaparecidos.mj.gov.br). A partir da informação
registrada, os dados serão validados no cadastro após a
verificação do caso.
Segundo o secretário Nacional de Segurança Pública
substituto, Alexandre Aragon, a partir do cadastro será possível
chegar a um número real sobre casos de desaparecimentos no país.
A base de dados será abrigada em uma rede integrada por
policiais, investigadores e delegados de todo o país. “O
desaparecimento é inserido no cadastro e, posteriormente,
divulgado para todos os entes de segurança do país”, explicou o
secretário.
Crianças e adolescentes
A secretária Nacional da Promoção do Direito da
Criança e do Adolescente afirma que a maior causa de
desaparecimento de crianças e adolescentes é a fuga, que
representa 40% do total de casos. Na sequência, estão a
subtração da criança por um dos pais (15% dos casos), o rapto
consensual, comum no caso de namoro entre adolescentes que fogem
junto (10%) e o desaparecimento relacionado ao tráfico de droga
e exploração sexual (5%).
Os estados com maiores índices de notificação de
casos de desaparecimento são o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais, que respondem por 40% dos registros. Para a deputada Bel
Mesquita (PMDB-PA), presidente da CPI do Desaparecimento de
Crianças e Adolescentes, o novo Cadastro Nacional será o
instrumento fundamental para a localização dos desaparecidos.
“Não vai nos ajudar a resolver os casos de
desaparecimento, mas teremos maior facilidade de encontrar
nossos filhos e nossas filhas. Tenho certeza que teremos um
longo caminho, mas será muito mais ágil do que foi até agora”, disse.